Precisamos de cantar para fora de nós, seja no palco, no chuveiro, à volta da fogueira, mas para isso também temos de cantar dentro de nós. Não sabemos o que nasceu primeiro, se o canto – uma presumível imitação dos pássaros – ou a palavra. O que interessa é que ambos formam uma aliança antiquíssima – a canção. É da palavra na canção que falaremos, mas também do carril musical que a palavra toma, às vezes sem perceber como.
Programa
- Breve análise à história da canção popular, origens, viagens, encontros, mestiçagens, a expansão da canção com o advento das novas tecnologias e dos meios de comunicação social, nomeadamente a rádio e reprodução mecânica do vinil, a sua importância crescente na história da cultura popular do século XX, o seu papel na consciência coletiva moderna, o seu auge e perda progressiva de importância com o triunfo do digital que, ao aumentar o seu raio no streaming, a banalizou e enfraqueceu.
- O texto na canção, o modo como ele se move na hierarquia que muitos dizem existir na canção, a complementaridade entre letra e música, os vários caminhos até se chegar à peça inteiriça, na qual já não se sabe o que nasceu primeiro, a relação delicada entre compositores e cantores, o risco da canção se perder – ou se potencializar – no processo de produção. A vantagem de ser compositor e cantor, a inferioridade do letrista passivo, a recorrente menorização da letra face a outros géneros literários.
- Análise de algumas canções e de como os autores escolhem os assuntos, ou são escolhidos por eles, porque estão antenados ao seu tempo e respondem a estímulos em redor, à imagem dos criadores de outras áreas. Como a realidade do autor se alimenta acidentalmente de narrativas paralelas, o cinema, a literatura, a poesia, os jornais, sem esquecer as canções que o autor ouve, que determinam a sua filiação, já que ninguém compõe sem estar enraizado numa tradição. A importância do humor na canção, a sua descendência das cantigas de escárnio e maldizer.
- A questão do Eu lírico, o ponto de vista da canção, a voz autoral, o mistério da formação dessa voz sem que, a maior parte das vezes, o autor se dê conta, já que não é um processo consciente mas dependente da relação que mantém com a música e com a palavra, porque a palavra também é música, dado o seu ritmo intrínseco, ao passo que música não contém a palavra em si, é um formulário melódico à espera de ser preenchido por um sentido qualquer. A métrica regulada do fado, o modo como alguns compositores anteciparam géneros que ganhariam relevo contemporâneo, como o hip-hop e o rap.
Quando
Datas: 17 de março a 7 de abril (quartas-feiras)
Horário: 18.30 às 20.30
Duração total: 8 horas